POR ADONIS KARAN
Nos anos 60, 70 e 80 realizamos alguns dos mais importantes festivais de Música Popular Brasileira. Através deles tive o privilégio de ver surgir uma geração extraordinária de artistas: Gonzaguinha, Ivan Lins, Chico Buarque, Elis Regina, Geraldo Vandré, Edu Lobo, Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Roberto Menescal, Wagner Tiso, Milton Nascimento, Belchior, Carlos Lyra, Nelson Motta, Cesar Costa Filho, Caetano Veloso, Gilberto Gil, entre outros compositores geniais, que hoje são reconhecidos e aclamados em todo o planeta.
Nas últimas décadas, o desinteresse da grande mídia pelos festivais criou um vácuo e a autêntica música brasileira praticamente não revelou novos talentos, perdendo sua personalidade. Os espaços foram gradativamente ocupados por movimentos musicais, produzidos unicamente com fins comerciais para consumo imediato e descartáveis. A internet viralizou e a mídia consagrou.
O pernambucano Leonardo Sales, estudioso da MPB, escreveu: “A música brasileira nunca esteve tão simplória, confinada em letras que abusam de palavras repetidas e de poucos e recorrentes acordes nas composições. Os responsáveis por esse movimento foram, principalmente, a massificação cultural do país desde o auge de Faustão e Gugu Liberato em seus programas de auditório”.
Anitta e Pablo Vittar são os exemplos mais marcantes desses movimentos. Por curiosidade, fui ver e ouvir a música “Vai Malandra”, no You Tube. Fiquei pasmado! Nunca tinha visto uma bunda cantar! Sucesso absoluto, elogiada pela mídia e intelectuais! E que letras! Chico deve ter ficado com inveja!
À exceção de alguns antigos medalhões que ainda permanecem, novos compositores da moderna Música Brasileira não têm espaço pra mostrar suas músicas. Músicos geniais estão passando necessidade por não terem onde trabalhar.
Criei novos projetos com o objetivo e a pretensão de tentar resgatar os antigos festivais. Esse tipo de evento é considerado ultrapassado por alguns formadores de opinião. Por outro lado, recente pesquisa revela que no ano passado foram realizados mais de 500 festivais da tradicional MPB no interior do Brasil. E agora? Ultrapassado? Quando o Brasil vai voltar a valorizar nossa música, que é reconhecida e amada no mundo inteiro? Que é a mais forte expressão cultural do nosso país? Quanto talento perdido...